A HISTÓRIA DO PAI NATAL
Era uma vez um velho homem pobre e só…
Ele não tinha mulher, nem filhos, nem netos…
Vivia só, com os seus míseros cêntimos…
Era um homem que como Abraão sonhava com uma vasta descendência, tão numerosa quanto as areias do deserto, tão imensa quanto a imensidão do céu estrelado em noite de lua cheia.
Esse homem vivia amargurado com a sua solidão, e o seu pequeno tesouro de ouro que ele tinha em grande estimação, embora fosse apenas constituído por uns míseros cêntimos que juntara das esmolas que fora recebendo; até que um dia resolveu pôr o seu dinheiro a render juros de felicidade no banco da sua terra. Depositou a sua quantia e pediu conselhos para saber o que tinha a fazer para conseguir o maior rendimento possível…O gerente do banco assegurou-lhe que colheria de rendimento o juro de uma felicidade sem fim, mas que teria de investir o capital e transformá-lo pelo trabalho em bem-estar ao serviço de todos! O trabalho, sendo o amor em movimento, tinha o poder de transformar as coisas em felicidade… pelo poder poder mágico do amor; explicou o gerente do banco. A felicidade e bem-estar, por sua vez, transformar-se-ia em riqueza, que uma vez investida e enriquecida com mais trabalho, resultaria em juros de felicidade nunca vistos. O gerente do banco do velho homem pobre e só, como todos os gerentes dos bancos o são, era especialista a fazer cálculos, pelo que instruiu na perfeição o velho homem pobre e só...
Mas que tipo de trabalho faria? O nosso velho homem pobre e só, que sonhava com uma grande descendência, e via em todos os meninos e meninas os seus netos e bisnetos, consultou o seu coração, e deixou-se guiar por ele. Desse modo ele ensinava todos os jovens, a escolher o tipo de trabalho em que se querem especializar. Bastava ir aonde os levava o coração, deixando-se guiar pelo poder mágico do amor, porque o trabalho não é nunca outra coisa senão, amor em movimento.
Desse modo ele logo se lembrou de fazer as delícias da criançada, fabricando engraçados brinquedos! Para tanto precisava apenas de algum material e de um banquito para trabalhar à porta da sua modesta casa, na Lapónia, que ficava ao norte da Finlândia, na região do Árctico. A casa era o seu porto de abrigo, nas noites invernosas daquelas gélidas serranias.
Apresentou então a ideia ao gerente do banco.
___ Bravo! Com a distribuição do produto irá colhendo juros de felicidade, quando os pequeninos se lembrarem de si, e finalmente terá uma grande descendência, porque os meninos e meninas para quem se fizeram os brinquedos, serão os herdeiros da sua fortuna! Não restam dúvidas, se investirmos o seu capital deste modo, teremos êxito retumbante! Poder-se-à distribuir brinquedos aos meninos pobres que de outro modo não os poderiam conseguir, e que irá fazer disparar em flecha a multiplicação dos juros de felicidade! Mãos à obra !
O capital do velho homem pobre e só, chegou unicamente para o gerente do banco lhe comprar um banquito e como estava muito frio, e ele queria trabalhar à porta de casa, foi-lhe emprestado mais algum dinheiro com o qual o gerente do banco lhe comprou algum material para começar o trabalho; e um fato vermelho, debruado com a alva pele do urso polar, muito quentinha, para não ter frio enquanto trabalhava.
Na Lapónia a natureza era agreste e maravilhosa! Os vales, as colinas, e os picos do cume das serras ofereciam aos olhos deste pobre homem só, um espectáculo sempre surpreendente, que ele contemplava com contínuo amor e sempre renovado e agradecido louvor ao seu criador.
Ele, com o seu banquito e o seu material, à porta de casa, vestido de vermelho e branco, sob o sol pálido do norte finlandês, fazia parte do magnífico cenário criado por aquelas serras…!...
O gerente do banco orientava o trabalho e determinou:
___ É preciso fazer uma lista de meninos a quem se destinam os nossos brinquedos. Para que renda maiores juros de felicidade faremos uma lista de meninos bem comportados, começando pelos mais pobrezinhos.
___ Eu encarregar-me-ei disso, pois conheço todos os meninos pobres das redondezas, e vou procurar referências a respeito do seu comportamento! Vou já elaborar uma lista, começando pelos mais carenciados, para render mais juros de felicidade, mas terão de ser todos bem comportados. Retorquiu o velho homem pobre e só.
Em breve os pobrezinhos das redondezas estavam entretidos com brinquedos pequenos, rústicos e engraçados, era um cavalinho de madeira, uma boneca de trapos, e muito mais…!...
Todos os meninos da Lapónia ao fim de alguns anos, conheciam todos os caminhos que iam ter à casita daquele pobre homem, que já não era só ! Na verdade, ele vivia rodeado de meninos e meninas, que brincavam no relvado em frente à sua casita,… enquanto o pobre homem só que já não era só ia fazendo brinquedos.
Os seus cêntimos tinham rendido enorme juros de felicidade. Já tinha netos e bisnetos, que não o largavam durante todo o dia, fazendo a sua alegria.
Mas a surpresa maior foi quando surgiram as primeiras cartas de meninos de fora da terra, pedindo brinquedos àquele velho e pobre homem só, que já não era só !
Eram precisos mais trabalhadores, e não faltavam interessados, mas era preciso pagar-lhes o salário! Como fazer? O gerente do banco achou que valia a pena fazer o investimento, e principiaram a trabalhar junto à casita do velho e pobre homem só, que já não era só, alguns trabalhadores!
Começaram a fabricar brinquedos sofisticados, como carros e comboios eléctricos, que muitos meninos pediam nas suas cartas. Os pais mais abastados pagavam avultadas somas por esses brinquedos, o que permitia pagar aos trabalhadores e ir juntando algum capital.
Um belo dia, começaram a chegar cartas do estrangeiro, a tal ponto que o velho homem, que já não era pobre, e que já não era só, resolveu por bem que daria a cada menino bem comportado apenas um brinquedo por ano, para desse modo poder contemplar o maior número possível de meninos.
O seu coração de pai de todos os meninos e meninas gostaria de contemplar todas as crianças do mundo.
Mas quando faria a distribuição anual dos brinquedos?
Foi de novo conversar com o gerente do banco.
___ Normalmente os presentes dão-se pelos aniversários… comentou o gerente, mas é muito difícil saber quando cada menino faz anos, e levar-lhe o presente nesse dia. De mais a mais isso obrigava-te a andar de lado para lado durante todo o ano. Não terias descanso, nem tempo para fabricar os brinquedos!
___ Já sei ! disse o velho homem, que já não era pobre, e que já não era só. Vou distribuir as prendas na noite do aniversário do Menino Jesus.
Ao baterem as doze badaladas dessa noite bendita, os meus empregados agasalhados com um fato vermelho e branco igual ao meu, descerão pelas chaminés das casas dos meninos bem comportados de todo o mundo, e colocarão os brinquedos nos seus sapatinhos! Foi meu dito meu feito.
O gerente do banco viu o negócio tão rendoso, que se empenhou em arranjar fatos vermelhos e brancos, quentinhos, para os empregados fazerem a distribuição.
Ao velho homem, que já não era pobre e também já não era só, chegava correspondência de todos os recantos do planeta, com pedidos de brinquedos e com as referências pedidas sobre o comportamento dos meninos.
Todos os professores das escolas, e catequistas das paróquias, davam informações ao velho homem, cada vez menos pobre e cada vez menos só. E sobre os que eram mais pequeninos eram pedidas informações ao papá e à mamã!
O velho homem, era cada vez mais rico e afamado! Porque ele tinha um coração de pai para todos os meninos e meninas, e porque fazia a sua distribuição de brinquedos pela altura do Natal… começou a ser conhecido por Pai Natal.
A sua casa tinha-se transformado numa fábrica de brinquedos, mas mostrava-se pequena e exígua.
Com o dinheiro que juntara, e que lhe mandavam os pais dos meninos de todo o mundo, o Pai Natal lançou mãos à ideia de construir uma grande fábrica.
E seria mesmo ali, no vale junto à colina, onde ficava a sua modesta casinha…
Seria mesmo ali, que começaria por realizar o seu grande sonho! Criar uma rede de fábricas de brinquedos através de todo o mundo!
O trabalho, amor em movimento, tinha sido a regra mágica que dera asas a todos os seus sonhos, e o transformara de velho homem pobre e só no mais rico e afamado empresário de brinquedos!
O gerente do banco, muito animado emprestou o que faltava para a primeira fábrica de brinquedos, e em breve a obra surgiu! Estava montada a primeira fábrica de brinquedos do Pai Natal, que não tardou a ser alargada e estendida a todo o vale, porque os empregados que entravam eram cada vez em maior número, e os brinquedos não paravam de sair, cada vez em maior quantidade!
Mas o velho homem cada vez mais rico e afamado não dormiu sobre os louros alcançados, continuou a trabalhar com dedicação e amor, dando o exemplo a todos os seus empregados.
Em breve, uma só fábrica no planeta revelou-se muito pouco, para satisfazer a todos os pedidos dos meninos e meninas de todo o mundo.
O velho homem, cada vez mais rico e afamado, sentia-se enfraquecer, faltavam-lhe as forças, o tempo fugia-lhe por entre os dedos, e a vida parecia escapar-se-lhe …
Começara a envelhecer pelas pernas, por isso para fazer a distribuição dos brinquedos na Lapónia, servia-se de um trenó puxado por seis renas fortes e corpulentas.
Mas o que mais o atormentava não era o envelhecimento, mas a perspectiva de deixar as crianças, e de entregar a distribuição dos brinquedos apenas aos seus empregados. Ele sabia que podia confiar a continuidade da sua missão aos seus empregados, mas a saudade das crianças já o atormentava.
Todavia, não se deixou abater.
E o seu negócio crescia… crescia…
Sentiu necessidade de fundar uma fábrica de brinquedos em cada país, e depois uma em cada província …
E o seu negócio não parava de crescer… crescer…
Mas ele sabia que também os grandes homens como os reis, os imperadores, e os chefes religiosos, terminam reduzidos a um punhado de cinza, por isso e apesar de todo o seu sucesso, ele vivia amargurado. Teria de deixar tudo. Mas de tudo, o que mais lhe custava deixar, eram as crianças…
O velho homem, cada vez mais rico e afamado, mantinha correspondência com muitas crianças.
O seu dia começava cedo, pelas cinco da manhã, a escrever cartas aos meninos e meninas de todo o mundo. E a noite prolongava-se por vezes até às duas da manhã, também a escrever cartas. Dizem que os velhos dormem pouco, na ansiedade de viver muito em pouco tempo, e de facto o nosso velho homem pobre e só cada vez mais rico e afamado, repousava a maior parte das noites apenas três exíguas horas, de um sono sobressaltado e agitado, que por isso mais lhe pareciam três séculos.
Numa carta que escreveu ao Rodrigo, já com doze anos bem vividos e bem desenvolvidos, referiu-se ao de leve à sua amargura.
Ele temia impressionar as crianças, mas um adolescente já sabe muita coisa sobre a vida, e já pode opinar sobre os grandes mistérios da existência.
Logo Rodrigo entrou em contacto com muitas crianças, e juntos escreveram ao velho homem pobre e só, cada vez mais rico e afamado.
Na carta diziam:
___ “ Nós vamos fazer uma cruzada de oração por si,
Escute O Menino Jesus que lhe sorri . . .”
Agora o velho homem cada vez mais rico e afamado já sabia o que fazer. Tinha decidido seguir o conselho das crianças.
Uma tarde, em que se sentia particularmente cansado e encurvado para o chão, dirigiu-se ao altar do Menino Jesus, e enfeitou-o enquanto falava com Ele.
Era Primavera, a natureza ressuscitava, e aquelas margaridas do campo, ficavam ainda mais belas e luminosas junto do Menino Jesus. Pareciam pequenos sois de amor a consumir-se por cada criança, alimentados pelo grande sol divino presente naquele Menino.
E oh maravilha! Eis que O Menino se anima, as faces tornam-se rosadas e os olhos com vida. Fala então ao nosso velho homem, cada vez mais rico e afamado, nestes termos:
“ Nada receies, porque trabalhaste com amor.
Eu submeti a morte ao poder mágico do amor.
A morte nenhum poder tem,
para quem luta pelo bem.
O Amor traz não só sucesso, mas também a eternidade.
Basta fazeres agora e sempre a minha vontade.
Que em cada uma das tuas fábricas, pelo natal,
Se construa um presépio em tamanho real …
Confia em Mim, e não tenhas medo …
É apenas este o segredo !”
O velho homem, cheio de riqueza e de fama, estava agora confortado. Tinha entregue a sua vida ao Menino Jesus. Apressou-se a escrever às crianças através do Rodrigo, dando a boa notícia.
Na véspera de Natal seguinte nomeou uma comissão em cada cidade, que seria encarregada de construir o presépio em tamanho real, à porta de cada fábrica.
Ele próprio se encarregou do presépio na Lapónia, que ficava no Árctico, onde tudo tinha começado!
No Natal, os presépios estavam lindos, enormes, em tamanho real. Mas o mais lindo era o da Lapónia, pois lá não faltava a tradicional neve em abundância.
O velho homem, cheio de riqueza e de fama, estava cada vez mais cansado e encurvado.
Na noite de Natal desse ano, a fábrica estava fechada pois os empregados andavam a fazer a distribuição dos brinquedos.
O velho homem, cheio de riqueza e de fama, já não tinha forças para ir no seu trenó puxado por seis corpulentas renas, fazer a distribuição na Lapónia. Em vez disso foi rezar, junto ao presépio à porta da sua primeira fábrica. Rezou ajoelhado, e por fim gelado, adormeceu,
Caía a neve branca e fria, e ele em paz faleceu!
Será que tudo tinha acabado para ele ?
Eis senão quando no meio da grande dor,
surge o poder mágico do amor.
A Virgem da Lapinha de Belém,
Segurando O Seu Menino O leva a beijar no rosto, o falecido.
E as nuvens e as estrelas aos milhares caem do céu . . .
Vêm vestir de luz e magia o Pai Natal,
A realidade espiritual era diferente e maravilhosa. Agora, as suas seis corpulentas renas atravessavam o luar, e ele podia descer em todas as chaminés do mundo, ao mesmo tempo, na noite de Natal.
Havia apenas um pequeno problema. Ele agora era invisível. Ou melhor, só se tornava visível por especial favor do Menino Jesus, mas a criançada sabia que ele não faltava junto ao seu sapatinho na noite de Natal.
“ Amor que não falha, é do Pai Natal a malha.
Porque o Pai Natal, agora espiritual,
vive com O Menino Jesus . . .
e brilha com A Sua Luz. “ cantava a criançada.
Havia alguns meninos bem comportados, que todavia não encontravam “nada” no seu sapatinho na noite de Natal !
Esses eram os mais afortunados, e eles sabiam-no !
É que O Pai Natal tinha enchido o seu sapatinho de valentia, saúde, força de vontade, audácia, inteligência e sabedoria.
Esses meninos mostravam vir a ser na vida, os mais fortes e sábios.
Eles sabiam que deviam tudo isso ao Pai Natal, a quem O Menino Jesus dera vida como ser espiritual.
O Pai Natal na vanguarda do mundo espiritual, sustentava o mundo material.
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